sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Mãe galinha!

16.10.15

Antes dos 10 anos, eu vivia num bairro italiano, junto a um liceu. Lá do outro lado do oceano. Todos os dias havia um carro da polícia, faziam rusgas, levavam miúdos. Ainda assim, numa cidade grande como era Toronto, eu ia a pé para a escola, que era a uns 4 quarteirões dali. Cresci numa escola multi-racial, havia claro racismo, haviam brigas, conflitos. Ora uma vez ganhei um concurso de desenho aos 8 anos, e durante 3 semanas tive de ir por outro caminho, porque uma miúda Índia (Índia mesmo, com duas tranças lindas e mais alta que a professora,mãe fez a vida negra); ainda assim cresci a respeitar. Acho eu que alguém fez um bom trabalho. O melhor que puderam.
E hoje o meu filho tem 10 anos. Anda numa escola nem metade daquela que eu frequentava. E de repente, sou uma mãe galinha? As vezes penso, calma, é normal, ele está a adaptar-se à escola, e é tímido, e acredita numa paz que é suposta, onde não tiram o que é teu, onde não é suposto levantar a mão para agredir ninguém. Depois pensas se foi assim tão boa ideia a que tu tiveste, de o por primeiro naquela escola pequena, porque era junto a praia... Agora lanças o miúdo à selva. Não o ensinaste a agredir. 
Hoje o meu filho chegou a casa e disse: Mãe, hoje o "fulano de tal" foi cercado na escola. Por miúdos de várias turmas. Deram-lhe tanta pancada que khe partiram um braço. Eu sei mãe, eu sei que ele fez por merecer, mas acho que não era preciso tanto".
Assim, olhando para a terça feira passada quando eu fiquei chocada do professor diretor de turma ser tão agressivo conosco país, porque olhou nos nossos rostos e disse, sem papas na língua, em linguagem direta, CRUA: não foi aqui que eles aprenderam a fazer isto, a agredir gratuitamente os outros miúdos, numa violência constante. Foi NA VOSSA CASA, foi, nos LUGARES para onde VOCÊS os levam; sou obrigada a pensar. 
Ligamos a televisão. Discutimos. Nalguns dias GRITO, e faço o meu melhor. Ele tem acesso à internet. Eu acho que ele não vê o que não deve, mas vê? Não batemos em animais. Ajudamos os animais? Partilhamos links sobre refugiados, partilhamos links de associações anti-tourada, anti violência doméstica, ouvimos os vizinhos gritar, o vizinho oferece-nos pistolas... Brincamos com isso. Digo, olha só que o vizinho perguntou se eu queria aquela pistola.
É sim, é mesmo em casa que eles aprendem. E nos sítios onde os levamos. E é assustador, que reclamemos de tudo. De todos os monstros que nós criamos, ou encobrimos, e depois lançamos os nossos filhos no filme que viram na semana passada na TV, porque queríamos fixar um bocado sossegados a respirar.


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